Levantar
os braços e acenar animadamente pode ser um problema para mulheres a
partir dos 35 anos. A musculatura interna do braço balança sem
constrangimento, lembrando-nos de que, com a idade, os músculos perdem
firmeza. Com o tempo, as fibras de sustentação vão cedendo, ficam menos
rijas, com capacidade de contração reduzida. Isso ocorre também com a
musculatura genital. “A flacidez nessa região é um processo fisiológico
que faz parte do envelhecimento do corpo. Ou seja, vai acontecer com
todas as mulheres em diferentes proporções. A intensidade varia de
acordo com o número de partos, o tamanho dos bebês que nasceram de parto
normal, os níveis hormonais e até mesmo a consciência corporal que a
mulher tem para utilizar, a seu favor, a musculatura genital”, explica
Carolina Ambrogini, ginecologista e sexóloga do Projeto Afrodite, da
Unifesp, em São Paulo. O projeto é pioneiro no Brasil e atende mulheres
com dificuldades sexuais em três frentes: ginecológica, psicológica e
fisiológica, por meio da fisioterapia uroginecológica – nome da
especialidade que estuda, formula e monitora exercícios e práticas para
fortalecer a musculatura genital. “Os primeiros exercícios foram
desenvolvidos pelo médico americano Arnold Kegel, em 1948, para tratar
pacientes com incontinência urinária, já que existe uma relação clara
com a fraqueza da musculatura perineal. “No entanto, esse médico
observou que as sessões, além de tratar a perda involuntária de urina,
melhoravam também a vida sexual feminina ao aumentar a capacidade de
lubrificação e tornar o orgasmo mais fácil”, explica Melissa Medeiros
Braz, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher, professora da
Universidade Federal de Santa Maria (RS) e coautora de um trabalho
acadêmico sobre o assunto.
Foram
necessários meio século e muita comprovação científica para que a
fisioterapia entrasse na seara da sexualidade como mais uma ferramenta
para favorecer o prazer. “É quase como uma segunda revolução sexual. A
primeira foi sociocultural, com os jovens clamando por liberdade no
comportamento sexual. Essa segunda revolução é mais funcional, focada no
autoconhecimento e no desejo de potencializar as possibilidades de
prazer”, comenta Gustavo Fernando Sutter de La Torre, fisioterapeuta
especializado em ginecologia, de Florianópolis. “É a chave da
feminilidade”, acredita Mirian Kracochansky, fisioterapeuta com
doutorado em urogeriatria, de São Paulo. “Barriga tanquinho não segura
ninguém. Já esse trabalho pélvico melhora muito a vida sexual do casal.”
As sessões
O
assoalho pélvico, ponto trabalhado com especial dedicação durante a
fisioterapia, é um complexo de músculos e ligamentos que se estende do
início da vulva ao cóccix e circunda o canal vaginal, a uretra, o
clitóris e o ânus. Os exercícios são direcionados principalmente para o
músculo da parede vaginal, mas também para outros próximos ao clitóris.
As sessões são baseadas em exercícios de contração e relaxamento dos
músculos genitais, com graus de dificuldade ou intensidade aumentados a
cada etapa do tratamento. O movimento básico é aquele de segurar o xixi,
contraindo a musculatura perineal. Depois, acessórios ou aparelhos
entram em cena para aprimorar a terapia. Um exemplo são os pequenos
cones, com pesos diferentes, inseridos no canal vaginal – para conseguir
segurá- los lá dentro, é preciso se concentrar e promover uma
musculação interna. As posturas durante os exercícios também mudam, para
dificultar. Deve-se começar deitada ou sentada, depois fica-se de pé,
caminhando, subindo e descendo escadas, ou até mesmo na piscina, sempre
exercitando a respiração e a consciência corporal. Tente: pare de ler
agora e contraia o assoalho pélvico. Essa solicitação, inicialmente
simples, confunde a maioria das mulheres. A pesquisadora norueguesa Kari
Bo, especializada na reabilitação dos músculos pélvicos, afirma que
apenas 30% das mulheres atendem corretamente ao pedido. O restante
contrai o abdome, o glúteo, qualquer outra região, menos a indicada, o
que demonstra pouca familiaridade com essa parte do corpo e o pouco uso
dela para alcançar o orgasmo.
Além
dos cones, há alguns aparelhos que medem a força perineal ou enviam
ondas elétricas para a área genital com o objetivo de despertar a
musculatura e, aos poucos, torná-la mais sensível. “Os exercícios que
fortalecem essa musculatura deveriam ser ensinados por todos os
ginecologistas para todas as suas pacientes. Não há idade específica
para praticá-los e podem ser feitos de forma preventiva por qualquer
mulher, mesmo as jovens”, recomenda Carolina Ambrogini.
Força interior
A
diferença entre um músculo flácido e outro trabalhado com fisioterapia
genital é percebida claramente durante a relação sexual. “A musculatura
do assoalho pélvico, quando tonificada, torna-se mais vascularizada,
enervada, muito sensível ao toque e propensa ao prazer. Ela também
poderá dar respostas sexuais mais rápidas, fazendo contrações mais
intensas durante a penetração e, assim, facilitando a conquista do
orgasmo, tanto da mulher quanto do homem”, explica Maria Angélica
Alcides, fisioterapeuta especializada em saúde da mulher e coordenadora
de fisioterapia no Projeto Afrodite. Melissa Braz acrescenta: “A
contração eficiente dessa musculatura torna a parede vaginal ‘mais
apertada’, capaz de prender e pressionar o pênis e, principalmente,
aumentando o atrito entre ele e a vagina durante o ato. O clitóris
também passa a ser mais estimulado”. Há também o trabalho de
fisioterapia específico para mulheres que não precisam enrijecer o
assoalho pélvico, e sim relaxá-lo, desfazer tensões ou nódulos. O
objetivo, aqui, é tratar o vaginismo e eliminar a dor durante a
penetração.
Para fazer em casa
A fisioterapeuta Melissa Braz indica três exercícios que podem ser feitos para o início de um trabalho de fortalecimento pélvico
1. Contração perineal lenta
Sente-se
bem acomodada sobre os ísquios (ossinhos da região glútea), com as
costas eretas e apoiadas, os joelhos flexionados e os pés no chão.
Inspire pelo nariz e, durante a expiração, contraia os músculos
perineais como se estivesse interrompendo o jato urinário, tentando
permanecer com a contração durante toda a expiração. É importante não
trancar o ar e não contrair o bumbum nem as coxas, isolando somente a
musculatura perineal. Pode-se iniciar com contrações de três segundos.
2. Contração perineal rápida
Na
posição que desejar, faça dez contrações rápidas da região perineal, de
cerca de um segundo cada uma. depois, repouse o dobro do tempo. Esse
exercício aumenta a lubrificação vaginal e pode ser feito no início do
ato sexual, com essa finalidade, ou durante a penetração.
3. Báscula pélvica
Levante-se,
deixe os joelhos levemente dobrados e coloque as mãos na cintura.
inspire, puxando o ar pelo nariz, e faça o movimento de projetar a pelve
para a frente, como se quisesse esconder o bumbum. ao expirar, soltando
o ar pela boca, leve a pelve para trás, “arrebitando” os glúteos.
Elas contam
“Eu
não conseguia ter prazer. Isso fez com que eu me desinteressasse pelo
sexo. Então, conversando com minha ginecologista, resolvi tentar a
fisioterapia. No começo, me sentia sem graça com os exercícios no
consultório, mas depois fui me acostumando. O resultado é nítido. Hoje
conheço bem o meu corpo. Chego ao orgasmo com o meu marido e sozinha
também.”
DINARTE MATOS, 46 ANOS, DONA DE CASA, CASADA
“Depois
do primeiro parto, perdi todo o interesse por sexo. Sentia dor.
Procurei uma fisioterapia e descobri que havia uma razão psicológica: eu
tinha sofrido um aborto pouco antes e ‘fechava’ a musculatura como
reação inconsciente. Com os exercícios, me soltei e aprendi a trabalhar o
assoalho pélvico. Agora, no segundo casamento, voltei a procurar a
fisioterapia após ter outro filho. Não tive mais dor e meu desejo se
mantém aceso. Hoje sou praticamente uma gueixa.”
H. I., 35 ANOS, PROFESSORA, CASADA
Fonte: Claudia