Selecionamos
as principais dúvidas sobre a intolerância alimentar que foram
respondidas por nutricionistas, para que você não perca o prazer de
fazer boas refeições.
O problema pode ser confundido com alergia
Reações
físicas à comida são comuns. Quase sempre trata-se de intolerância, e
não de alergia. Mas, como têm sintomas semelhantes, há confusão entre os
males, o que pode atrasar o diagnóstico. Alergia é a resposta
imunológica do organismo ao reconhecer algo que julga prejudicial e
digno de combate. A intensidade independe da quantidade de substância
"inimiga" ingerida. Resulta em coceira na pele, na garganta e nos olhos e
inchaço no rosto, entre outros sintomas. Já a intolerância, segundo a
médica Ariana Yang, do Ambulatório de Alergia Alimentar do Hospital das
Clínicas de São Paulo, é a incapacidade de metabolizar um alimento por
deficiência ou ausência da enzima necessária para isso. Nesse caso,
quanto mais comer o que faz mal, pior.
Não se trata de uma doença grave
Diferentemente
da alergia, que pode levar a reações sérias e fatais - a exemplo do
edema de glote, inchaço que faz cessar a respiração -, a intolerância
não é perigosa. Causa desconfortos digestivos, como cólicas, gases,
diarreias e náuseas. Os sintomas podem surgir horas ou até dias após o
consumo da substância intolerada. A intensidade do quadro depende não só
da quantidade ingerida do alimento desencadeador como de quanto da
enzima essencial para sua digestão a pessoa produz. Se o foco do
problema é eliminado da dieta, os incômodos somem. "Já os danos causados
por alergias demoram a desaparecer", diz o gastroenterologista Jaime
Zaladek Gil, do paulistano Hospital Albert Einstein.
Em algum momento todos vão ter
A
hipersensibilidade à lactose, causada por uma baixa de lactase (enzima
essencial para o processamento do açúcar do leite), é a intolerância
mais comum. Segundo estimativas brasileiras, ela atinge quase 70% das
pessoas em algum momento da vida. Mas um grupo de especialistas vai além
e defende que, em graus diferentes, todo mundo apresenta alguma reação
alimentar adversa pelo menos uma vez na vida. "A intolerância é uma
predisposição individual", define a médica Ariana Yang. Em quem já tem a
tendência, o consumo excessivo de certo alimento pode dificultar a
digestão, gerando um episódio. Outros fatores, no entanto, podem tornar a
pessoa intolerante. De acordo com o gastroenterologista Jaime Gil,
existe o risco de infecções ou cirurgias que encurtam o intestino
fazerem o corpo perder a capacidade de absorver determinada substância.
Dá para comer o que causa a intolerância.
Se
na alergia é essencial banir da mesa o agente causador, em quase todas
as intolerâncias é possível mantê-lo no menu em pequenas porções, sem
desconforto. Para tanto, é preciso descobrir, usando o método de
tentativa e erro, o limiar de aceitação do organismo e evitar
ultrapassá-lo. A exceção é a intolerância ao glúten, presente em pães,
biscoitos, macarrão e outras massas à base de trigo. Aí a restrição
total é obrigatória, pois o consumo dessa proteína por quem não a digere
bem pode causar câncer de intestino. Já quem tem intolerância à lactose
conta com cápsulas para repor a enzima lactase. "A proposta não é
ingerir todo dia, mas dar à pessoa a chance de consumir lactose de vez
em quando", explica Ariana Yang.
O leite não é o único vilão
A
mais comum de todas as hipersensibilidades, a intolerância à lactose,
normalmente não se manifesta logo no começo da vida, quando o organismo
produz em quantidade adequada a enzima necessária para metabolizar esse
açúcar. É mais frequente que o corpo perca depois, progressivamente, a
capacidade de produzir lactase e os desconfortos comecem a surgir. Isso
pode ocorrer ainda na infância ou só na fase adulta. Mas o leite não é o
único vilão nessa seara. Nem o glúten. Os sulfitos (substâncias
conservantes usadas nos vinhos), as tiraminas, presentes em queijos e
chocolates, e os corantes são fontes frequentes de intolerância. E,
relembrando, qualquer alimento consumido em excesso pode provocar
mal-estar no sistema digestivo. "O intestino é uma verdadeira barreira
imunológica", afirma a nutricionista funcional Daniela Jobst, de São
Paulo.
É possível passar anos sem um diagnóstico
Como
os sintomas podem ser vagos e nem sempre são contínuos, há quem passe
anos - ou até a vida inteira - sem descobrir a causa de desconfortos
gastrointestinais, segundo a alergista Ariana. Ao desconfiar de que é
intolerante a algo, pesquise, com base em observação e testes, se
existem comidas específicas que disparam os sintomas. Em seguida,
procure um médico para obter um diagnóstico preciso. Manter um diário
alimentar vai ajudá-la a fazer sua parte. Com as anotações, será fácil
identificar o que as refeições dos dias em que a indisposição surge têm
em comum. Outra maneira eficiente de achar o que faz mal é, aos poucos,
excluir os alimentos suspeitos da dieta até se livrar do mal-estar.
Depois, reintroduza-os, um a um, para se certificar de qual deles acende
a luz vermelha. "Com a intolerância controlada, o intestino se
regulariza, o humor e o sono melhoram, as doenças respiratórias somem e
as dores de cabeça ficam menos frequentes", afirma a nutricionista
Daniela.
Fonte: Claudia