As
fraldas foram aposentadas há algum tempo. A mamadeira já não visita
mais as manhãs. A criança está prestes a ser alfabetizada. Tudo
perfeito, se não fossem as calças frequentemente molhadas. Pois é,
dentro de casa ou na escola, a urina insiste em dar aquela escapulida.
Longe de pedir uma bronca dos pais, a situação exige um olhar atento e a
ajuda de um médico. Episódios recorrentes de xixi fora de hora são a
mais pura manifestação de um problema que pode arrasar a autoestima do
pequeno: a incontinência urinária.
Por que a urina escapa:
É
normal uma criança molhar o pijama ou o uniforme vez ou outra. A
incontinência existe, de fato, quando os escapes são recorrentes. "Ela
pode ser causada por uma alteração neurológica ou anatômica, como um
estreitamento do canal por onde a urina sai", diz o urologista Ubirajara
Barroso Júnior. Ou, o que acontece na maioria dos casos, a comunicação
do cérebro com a bexiga é falha e esse órgão se contrai
involuntariamente. Aliás, incontinência não é a mesma coisa que a
enurese noturna - o famoso xixi na cama. "Nessa condição, a criança não
desperta quando a bexiga está cheia e acaba urinando", diz o cirurgião
urológico Carlo Passeroti, de São Paulo.
Identificar o distúrbio o quanto antes é a chave para prevenir complicações, como infecções urinárias e danos aos rins.
O que você precisa prestar atenção:
· Verifique se a criança urina, em média, de três em três horas - de cinco a sete vezes por dia.
·
Repare se ela segura por muito tempo a urina ou se fica se contorcendo e
colocando as mãos na genitália quando tem vontade de fazer xixi.
· Fique de olho em que situações ela molha a calça ou o pijama.
·
Veja qual a posição em que ela se senta no vaso (as meninas que se
afundam na privada, por exemplo, contraem demais o abdômen e não
esvaziam a bexiga direito).
· Apure se a criança vai ao banheiro na escola e a incentive a fazer xixi fora de casa - a timidez é inimiga da bexiga.
· Averigue se o jato de urina é fraco ou forte e se há algum incômodo ao urinar.
· Avalie o comportamento do pequeno: ele é ansioso? É hiperativo? Passou por algum estresse intenso?
Tratamento:
A
Disfunção Miccional é um distúrbio de origem funcional constituído de
diversas formas de padrões miccionais anormais que juntos ou
isoladamente geram a perda da capacidade coordenada de armazenamento,
estocagem e eliminação de urina. Disfunção Miccional é um termo amplo
que indica um “padrão miccional anormal” para a idade da criança
(HELLERSTEIN e LINEBARGER, 2003).
A
forma mais comum de “padrão miccional anormal” em criança é a
existência de contrações involuntárias na bexiga (bexiga hiperativa) na
fase de enchimento. Estas crianças, na tentativa de se defenderem contra
a perda urinária no momento da contração da bexiga, contraem os
músculos do assoalho pélvico produzindo um refluxo de urina carregada de
bactérias, da uretra para a bexiga e conseqüentemente aumentando o
risco de infecções urinárias recorrentes. Estas infecções aumentam a
instabilidade e a sensibilidade da bexiga levando à incontinência que,
por sua vez, aumenta a susceptibilidade à infecção. A persistência das
contrações involuntárias causa alta pressão na bexiga podendo determinar
um refluxo da urina da bexiga para os rins, favorecendo o aparecimento
de cicatrizes renais e posteriormente levando à insuficiência renal
crônica.
Através
de exames específicos, o nefropediatra faz o diagnóstico e inicia o
tratamento através de medicamento (relaxadores da musculatura da bexiga)
e encaminha para a fisioterapia. A Fisioterapia possui recursos
valiosos como tratamento coadjuvante na Disfunção Miccional (bexiga e
assoalho pélvico) em crianças que apresentam perdas urinárias diurnas,
retenção urinária, na enurese e também na constipação intestinal
crônica. Os recursos fisioterápicos da Reeducação Funcional do Assoalho
Pélvico incluem:
- Programa educativo com informações básicas de anatomia e fisiologia da micção e da defecação, conscientizando a criança da sua musculatura pélvica e de sua capacidade de relaxamento.
- Eletroestimulação com baixa freqüência utilizada na hiperatividade vesical.
- Biofeedback Eletromiográfico que através de sinais visuais (gráficos) e/ou auditivos (sinais sonoros) a criança aprende a relaxar músculos excessivamente contraídos e melhorar a coordenação da atividade motora do assoalho pélvico.
Se
você começar a perceber algum comportamento diferente em seu filho, ou
algum conhecido não deixe de encaminhar a criança para receber a ajuda
de um profissional especializado. Na Corpus Liber contamos com um equipe
especializada em tratar todos os distúrbios do assoalho pélvico em
crianças de ambos os sexos e todas as idades.
Fonte: Dra. Marta Rizzini e MdeMulher