O comerciante Leandro Couto Nascimento de Barueri, na Grande São Paulo, coleciona tudo relacionado ao Batman, herói dos quadrinhos. De carrinhos no formato do Batmóvel a fitas VHS: já são mais de cinco mil peças catalogadas até agora. A paixão pelo personagem surgiu na infância. Nessa época, Nascimento se divertia com o seriado de TV dos anos 1960 sobre Bruce Wayne. E foi reacesa na metade da década de 1980, quando o quadrinista americano Frank Miller lançou "O Cavaleiro das Trevas". "Daí, comecei a comprar gibis, canetas, relógios, camisetas...", recorda. "O hábito pode funcionar como uma porta de entrada para novos relacionamentos", explica a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da ISMA-Brasil, entidade internacional dedicada ao estudo do estresse.
A bancária Flávia Romanha, 37, de São Paulo, que coleciona papéis de carta desde os 10 anos, é um exemplo: "Conheci quatro amigas, que são muito íntimas, em um evento que reúne colecionadoras duas vezes por ano". Ela, que tem 40 mil papéis de carta guardados em 140 pastas pretas, é a organizadora do encontro. Em muitas situações, esses grupos podem fornecer algum tipo de apoio emocional para seus integrantes, diz a psicóloga Ana Maria Rossi.
E o hobby também é uma forma de aliviar as tensões cotidianas, porque possibilita um distanciamento delas. "Procurar itens para minha coleção foi uma válvula de escape quando estava com problemas no casamento", afirma o comerciante Leandro Couto Nascimento, hoje divorciado. Mas esse tipo de atividade pode se tornar uma fonte de distração se o indivíduo se concentrar somente nela. Moderação, portanto, é sempre bem-vinda.
Mais um ponto a favor para quem curte fazer coleções: elas facilitam o aprendizado. "Quando uma criança coleciona algo, acaba fazendo uma categorização, que dá origem à noção de quantidade e de números", explica a pedagoga Maria Angela Barbato Carneiro, da PUC de São Paulo. Além disso, o hobby favorece a assimilação da história e amplia o conhecimento sobre o planeta. E isso é válido para crianças e adultos.
É que o colecionador se depara com dados como a época na qual o objeto de desejo foi produzido, seu país ou região de origem e por aí vai. A aprendizagem da língua nativa ou de estrangeiras é outra beneficiada. "Conheço crianças que se alfabetizaram com álbuns de figurinhas de futebol", conta Barbato. Ao ver a foto e o nome do ídolo estampados ali, há uma associação da imagem à palavra, que é memorizada e mais facilmente identificada em outros textos. Não à toa, os donos de coleção acabam se tornando especialistas no assunto de seu interesse. "Um colecionador de selos fica a par de técnicas para saber se houve adulteração", exemplifica a psicóloga Ana Maria Rossi.
Fonte: Uol